quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Orientações sobre o uso do microfone

O microfone é um grande aliado da comunicação oral, pois é um recurso que amplifica a voz, minimiza seus desgastes e facilita a compreensão pelo ouvinte. A oferta de um microfone é uma gentileza que deverá ser sempre aceita. O medo de seu uso se deve à falta de prática e em especial, a dificuldade de perceber a auto-imagem vocal amplificada. O microfone apenas amplifica e não deve distorcer a voz. Porém, problemas de comunicação serão amplificados (ruídos, nasalidade, erros gramaticais, fricativos e plosivos acentuados, intensidade elevada). Importante salientar que não há microfone universal. São necessários microfones diferentes para a música, para a palavra, para os ambientes sonoros barulhentos, para os sons longínquos. Eles podem ser do tipo cardióide (capta o som pela frente) e omnidirecional (capta em todas as direções) e em vários modelos, como os com cabo, sem cabo, lapela, girafa e headset.
Eis algumas orientações para tirar melhor proveito desta ferramenta:

- Verificar se está ligado, pois é comum os falantes iniciarem um discurso com o microfone desligado;

- Utilizar capa de sopro para suavizar os sons plosivos e fricativos e também para evitar que gotas de saliva danifiquem o equipamento;

- Testar com a voz. Não se deve soprar ou bater no receptor;

- Verificar o retorno da voz logo no início da apresentação. De preferência com antecedência;

- Cuidado com a microfonia. Deve-se retirar o microfone da direção das caixas de som para que o ruído da microfonia finde;

- Não utilizar uma voz artificial. Sempre falar de modo natural;

- Não gritar, pois a amplificação causará desconforto aos ouvintes;

- Segurar o microfone de modo firme, abaixo da boca para que o público realize leitura labial. Não segurar próximo ao cabo e nem próximo ao receptor;

- A distância da boca será de acordo com a qualidade da captação do som. Não ultrapassar 10 cm, mas também não aproximar demais ou coloca-lo de lado;

- Não anteriorizar a cabeça, pois promove distorções na voz. Deve-se aproximar o microfone da boca e não vice-versa

- Verificar tamanho do cabo, estando sempre à frente do falante para que se possa caminhar sem que ocorram intercorrências. Não enrolar o cabo na mão, pois poderá danificá-lo;

- Não gesticular com a mão do microfone;

- Colocar, retirar e ajustar no pedestal desligado, evitando ruídos desagradáveis;

- Ajustar o pedestal para ler de forma que não atrapalhe o manuseio das páginas.

Estas são algumas orientações que poderão colaborar para uma performance natural e eficiente. Deve-se utilizar um microfone de boa qualidade, assim como conectá-lo a um sistema de som que não provoque distorções.
Em tempo: se o falante não tiver conteúdo e expressividade, não será o microfone que irá salvar a apresentação. Para isto, existem os fonoaudiólogos. Sucesso!

Charleston Palmeira

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Uma breve reflexão sobre respiração e voz

A literatura fonoaudiológica possui uma respeitável relação de textos sobre a importância da respiração para a produção da voz. Não é nosso propósito realizar uma análise destas obras, mas sim se utilizar da fisiologia respiratória para compreender melhor nossos planos de atendimento junto ao paciente acometido de disfonia hipercinética. As diferenças entre a respiração vital e a respiração motriz nos trás dados importantes para nossa clínica. Vamos nos deter em apenas uma delas: a respiração vital não encontra, em sua fisiologia normal, nenhum obstáculo durante seu movimento expiratório, enquanto que a respiração motriz tem sua expiração obstacularizada pelas pregas vocais em adução e pelos articuladores. Retiramos desta assertiva o que acreditamos ser a base para a reabilitação vocal de natureza hipercinética: a redução da hiper-obstacularização da passagem do ar, e conseqüente melhora da qualidade vocal. Entendemos que a fonação não seja um ato de natureza relaxante, pois dele se gasta energia e se emprega forças musculares. Tais forças quando se excedem, por motivos vários, findam por reter a livre excursão do ar sonorizado. E quais os locais desta retenção? As válvulas: glote e articuladores. Daí, entendemos que a reabilitação vocal nestes quadros sempre deverá estar perpassando sobre esta premissa, mesmo naquelas filosofias fonoterapêuticas que não empreendem a respiração como importante aspecto a ser reorganizado no paciente acometido de disfonia hipercinética. Assim, corroboramos com a tese de que a busca de um equilíbrio entre o ar expiratório, as forças glóticas e os movimentos articulatórios durante o ato da fonação formam uma tríade-mestra para o caminho do sucesso na terapia vocal. E não precisamos ir muito longe para sabermos disso. Convém apenas escutar o que nosso corpo nos solicita o tempo todo: libere-me das minhas válvulas emperradas!
Charleston Palmeira

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Fonoaudiologia e Radio Web

No mundo moderno a comunicação oral é uma grande moeda de troca entre os povos. Dela surge um emissor, com capacidade de expressar seu pensamento com presteza e objetividade, e que se dirige a um receptor, ávido de uma informação. O receptor informa ao emissor que o compreendeu. Daí fecha-se o ciclo comunicativo que cria, transforma e faz evoluir todos os tipos de relação.
Mas entre o emissor e o receptor existe a mensagem em forma de palavras, gestos, mímica facial, postura, silêncios... Em meio a tantos atributos da mensagem veiculada pela fala podem existir ruídos e fazerem ruir uma comunicação que deveria ser limpa, forte, direta, objetiva. E é a Fonoaudiologia a ciência que está habilitada a pesquisar, avaliar, tratar e prevenir tais ruídos.
A presença de um profissional em uma emissora de rádio, habilitado em potencializar a conduta comunicativa de seus locutores, é indício de que esta se preocupa com a qualidade de seu produto final: a comunicação. Com essa premissa, a Radio Unifor, anteriormente denominada Rádio Gentileza , desde seus primeiros esboços, vem fazendo valer sua missão: utilizar-se da comunicação como uma forma de educar, agregando novos saberes e possibilidades
De uma experiência informal, realizada através de inserções de palestras proferidas na disciplina de Produção Publicitária em Rádio sobre a função da Fonoaudiologia na radiodifusão, foi desenvolvido o projeto de uma radio web, com o objetivo de desenvolver no universo radiofônico uma proposta de educomunicação.
No alicerce da rádio, consta o pilar da interdisciplinaridade, compreendida como um dos modos de se trabalhar o conhecimento, integrando aspectos que ficam iisolados uns dos outros. Fragmentar a comunicação não parece uma solução didática. A produção de uma peça radiofônica não se completa até o momento desta ser falada. E na fala está a Fonoaudiologia.
Sob o aval da interdisciplinaridade, foram estabelecidas metas para a operacionalização da rádio, onde a Fonoaudiologia propôs os seguintes objetivos:
- Colaborar no processo seletivo dos locutores
- Participar do processo de modelo de locução para a emissora,
- Aplicar avaliação e aperfeiçoamento permanente da comunicação oral dos locutores,
- Desenvolver a resistência vocal para evitar acometimento de distúrbios da comunicação oral e
- Realizar direção vocal durante a gravação dos programas e spots.
A inserção da disciplina Estágio Supervisionado II em Fonoaudiologia do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza - Unifor no projeto da rádio colabora para execução destes objetivos. Os alunos, em número de seis, participam das etapas de confecção da programação da rádio, exercitando ações interdisciplinares.
Em reuniões para a formatação da rádio, equipes foram responsáveis pela operacionalização de cada programa, da produção musical à locução. Porém, a idéia de realizar um banco de vozes surgiu da demanda de se utilizar vozes específicas para determinados spots e jingles. Semestralmente é realizada nos estúdios de rádio uma seleção de vozes das mais diversas qualidades: graves, agudas, fortes, frágeis, infantis, maduras etc. Candidatam-se alunos de todos os cursos da Universidade, assim como do corpo docente e administrativo. Depois de selecionados, são contatados posteriormente para participarem das locuções de acordo com as necessidades das peças publicitárias. Os candidatos que apresentarem alto e médio grau de desequilíbrio vocal serão desclassificados, porém encaminhados para o setor de Fonoaudiologia da universidade para realizarem reabilitação fonoaudiológica. Gerenciam este processo, os alunos do curso de Fonoaudiologia com colaboração do staff da rádio.
Behlau et all. (2005) relatam que alguns locutores apresentam uma marca vocal individual, sendo reconhecidos e contratados por este aspecto. Outros têm que desenvolver a marca vocal da emissora, para que o ouvinte localize-a no dial através de sua locução. Porém, acreditam que a locução deverá ser sempre embasada em determinados critérios como credibilidade, envolvimento e informalidade. Criar um modelo de locução para os programas não foi uma preocupação inicial da equipe. Desde os primórdios do projeto, discutiu-se a identidade sonora da rádio, mas um modelo de curva melódica, velocidade de fala e expressividade vocal não foi imposto aos alunos do projeto que realizariam a locução. Porém, alguns aspectos comunicativos foram considerados e desenvolvidos junto a Fonoaudiologia:
- Redução ou eliminação de rouquidão e ruídos respiratórios
- Atenção à articulação das palavras em Português e em outra língua
- Entonações pertinentes aos conteúdos dos programas
- Conservação dos traços de sonoridade regionais
Considerando que a rádio ainda encontra-se na fase experimental, a locução ainda está em fase de construção para posterior lapidação. Assim, o formato da locução se estrutura à medida que a rádio cresce em sua programação, suas metas e alcance.
A atenção fonoaudiológica está centrada no desempenho comunicativo dos locutores. Procedimentos são realizados para que estes se sintam confortáveis vocalmente frente aos roteiros e spots que desenvolvem. Palmeira (1996) refere que as etapas do programa de aperfeiçoamento da comunicação oral consistem de conhecimento da anatomofisiologia da voz, avaliação da conduta comunicativa, detecção dos distúrbios da fala e voz, aplicação de técnicas específicas de treinamento auditivo, adequação das posturas; relaxamento, aquecimento e desaquecimento do trato vocal; controle respiratório; articulação; ressonância; inflexão e interpretação. Atenção redobrada é fornecida ao uso do microfone, visto que é o principal instrumento de trabalho do locutor, amplificando as qualidades e os ruídos vocais. Normas de higiene vocal são introduzidas e discutidas, questionando os mitos e verdades sobre os efeitos positivos e negativos de algumas condutas para melhorar a qualidade da voz. Tais ações contribuem para a adaptação da comunicação às necessidades radiofônicas e para o aumento da resistência vocal reduzindo os risco de acometimento de distúrbios vocais decorrente do uso profissional da voz. O acompanhamento fonoaudiológico dos locutores também inclui encaminhamentos para exames laringoscópicos e audiométricos.
A direção vocal, compreendida como a regência vocal e interpretativa da locução, é realizada em estúdio antes e durante a gravação. São discutidas as melhores forma de distribuir a respiração no texto, apontadas as palavras de difícil articulação e desenhadas curvas melódicas para uma melhor interpretação dos textos. Retoma-se, aqui, o equívoco de tomar modelos de locução como referência. Farghaly (2002) alerta para que o locutor inexperiente não tenha como modelo um outro profissional, levando-o ao mau uso vocal, sobrecarregando o trato vocal e desenvolvendo quadros patológicos na voz. Ressalta que o locutor deve procurar seu próprio estilo em prol de uma expressividade mais natural e saudável. Os trabalhos com direção vocal auxiliam ao locutor a encontrar o modo de emissão adequado para determinada locução após experimentar vários outros. Com isto, se promove um maior número de possibilidades e ajustes vocais para a locução de um determinado texto, fazendo o locutor experimentar várias nuances de sua voz e amadurecer em direção ao seu estilo.
A participação de um profissional fonoaudiólogo na estrutura operacional de uma rádio colabora para a formação da identidade comunicativa da emissora. O processo interdisciplinar entre a comunicação social, no campo da radiodifusão, e a Fonoaudiologia, não acontece apenas visando uma complementação de conteúdos. Não são medidos os esforços para manter esta unidade comunicativa no ambiente da rádio, devido a este processo interdisciplinar ser um modelo que acumula ganhos e que auxilia na formação de uma mente plural de todos envolvidos na arte-ofício de se comunicar.
Os resultados iniciais deste trabalho apontam para a expansão do universo comunicativo onde a Publicidade e Propaganda acolhe a Fonoaudiologia como um saber agregado e transformador do seu fazer e esta amplia a sua visão de comunicação ao experienciar a construção de um veículo tão popular e tão presente em nossas vidas como a comunicação: o rádio.


Referências bibliográficas
BEHLAU, M. Voz – o livro do especilaista. Vol 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2005
FERGHALY, S.M. Despertar de um novo encontro - a estética vocal e a comunicação radiofônica. In: FERREIRA, L. P.; ANDRADA E SILVA, M A. Saúde vocal: práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2002
PALMEIRA, C. T. Aperfeiçoamento vocal como instrumento de prevenção dos distúrbios vocais. Revista do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza. 9: 26-29, 1996

Charleston Palmeira