domingo, 23 de março de 2008

Aperfeiçoamento da comunicação oral

O campo fonoaudiológico comporta inúmeros procedimentos de ordem preventiva e reabilitadora. A necessidade de investigar a melhor eficácia destes procedimentos estimula a realização de pesquisas que objetivam dimensionar o alcance da Fonoaudiologia. Estudos nas áreas da Audição, Motricidade Orofacial, Linguagem e Voz auxiliam ao fonoaudiólogo entender melhor o seu ofício e, assim, contribuir para um melhor bem-estar da sociedade.
O uso profissional da voz é um dos temas mais discutidos em periódicos e congressos científicos devido sua importância no cenário profissional do mundo moderno, visto que a utilização equivocada da comunicação oral poderá acarretar diversos transtornos para a saúde do falante, estabelecendo, por sua vez, dificuldades na decodificação das mensagens enviadas ao ouvinte.
O grupo de atividades que favorecem a comunicação oral nos diversos profissional da voz tais como professores, vendedores, locutores, operadores de telemarketing e cantores, recebe várias denominações: aperfeiçoamento vocal, aprimoramento vocal, impostação da voz, estética ou mesmo ginástica vocal (Nascimento e Ferreira, 2000). Talvez o uso do termo aperfeiçoamento da comunicação oral seja o mais pertinente para as atividades propostas ao profissional da voz, pois não somente a voz será potencializada, mas também aspectos como vocabulário, expressividade, articulação, fluência, velocidade da fala e oratória. Ou seja, comporta um grupo de técnicas que contribuem para uma expressão oral objetiva, clara, relaxada e natural e, assim, favorecer o desempenho profissional. Modelos de atuação fonoaudiológica, com objetivo de promover o aperfeiçoamento ou reabilitação da comunicação oral foram descritos com sucesso por inúmeros estudiosos do campo fonoaudiológico (Carrasco, 2001; Garcia, 2002; Lopes, 2002).
A necessidade de se ter um bom desempenho de fala e voz advém da Grécia Antiga e os primeiros manuais de exercícios da voz datam do século XVI. Apesar de tantos séculos de comprovação da eficiência dos exercícios para o aperfeiçoamento da comunicação oral, o mundo moderno ainda tenta utilizar paliativos que tentam substituir condutas realmente eficazes para os problemas da voz.
As práticas fonoaudiológicas revelam que, apesar da considerável prevalência de alterações vocais em profissionais da voz, devido à ignorância total do comportamento vocal normal, agravado pelo esforço vocal diário, ainda é pequeno o interesse real a cerca do uso adequado da voz e das conseqüências do mau uso desta. É sabido, porém, que a proporção que aumenta o tempo de profissão aumenta também o número de profissionais que procuram o fonoaudiólogo para tratarem problemas decorrentes do uso profissional da voz. Procurar esta modalidade de serviço fonoaudiológico quando já apresentam alterações vocais permanentes faz dos cursos de aperfeiçoamento da comunicação oral verdadeiros ambulatórios. Na verdade, esses profissionais necessitam de procedimentos para a reabilitação vocal inicial para eliminação do distúrbio e, só após, serem encaminhados para aperfeiçoar suas características comunicativas.
Acompanhando os resultados dos procedimentos que os fonoaudiólogos dispõem para qualificar a comunicação oral as empresas e instituições de ensino têm compreendido a importância da Fonoaudiologia e ofertam, em seus programas de capacitação profissional, cursos ministrados por fonoaudiólogos que orientam seus profissionais a desempenharem suas funções vocais com menor esforço, maior eficiência e maior naturalidade de emissão. A sociedade, refém da multi-poluição e do estresse social, tem vislumbrado na Fonoaudiologia uma modalidade terapêutica para melhorar a qualidade de vida. Assim, o verdadeiro sentido do aperfeiçoamento, prevenir distúrbios e desenvolver as qualidades comunicativas, ganha clareza e percorre o caminho para seu reconhecimento, em um país que pouco compreende, discute e aplica o verbo prevenir.
CARRASCO, M.C.O. Fonoaudiologia empresarial – perspectivas de consultoria, assessoria e treinamento. São Paulo: Lovise, 2001.
GARCIA, A.A. Vivências corporais vocais: prática preventiva. In: Saúde vocal – práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2002.
LOPES, V. Oratória e cursos de comunicação oral. In: FERREIRA, L. P.; ANDRADA E SILVA, M A. Saúde vocal: práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2002
NASCIMENTO, M. A.; FERREIRA, L.P. A Voz num contexto não terapêutico: visão do fonoaudiólogo. In: FERREIRA, L.P.; COSTA, H.O. Voz ativa – falando sobre o profissional da voz. São Paulo: Roca, 2000.

* Adaptação, realizada pelo próprio autor, do texto Comunicação oral na escola. In: DAMASCENO, A., MACHADO, H.; SOUZA, O. Fonoaudiologia escolar – Fonoaudiologia e Pedagogia, saberes necessários para a ação docente. Belém: EDUFPA, 2006.

Charleston Palmeira

segunda-feira, 10 de março de 2008

Proposta de triagem vocal para corais

O trabalho fonoaudiológico junto aos cantores requer conhecimentos específicos da área do canto e da música. Não se trata de fazer do fonoaudiólogo um expert em canto, porém, ao agregar este saber o fonoaudiólogo transita no mundo do canto e da música com maior conforto.
Este artigo pretende expor um protótipo de triagem vocal para cantores coralistas, tendo a premissa de que se trata de um trabalho realizado com a voz cantada, independente do gênero e estilo musical, em grupo que apresenta diversas sonoridades, ou seja, vozes graves e agudas, masculinas e femininas.
O trabalho se inicia com a distribuição da ficha de triagem entre os coralistas. Que deverão preenchê-la de acordo com os comandos e informações do fonoaudiólogo.
A queixa deverá ser descrita pelo coralista de forma clara e coloquial, sem a preocupação em utilizar termos técnicos, fonoaudiológicos ou musicais. Importante também o registro de problemas vocais anteriores, incluindo quadros de afonia. Atentar para o tempo de permanência do problema, como foi solucionado e se houve recidiva.
Segue com a investigação dos distúrbios mais freqüentes relacionados à voz. Eis os sugeridos para constar na ficha de triagem: rouquidão, perda da extensão vocal, aperto na garganta, cansaço vocal, bolo na garganta, pigarro, tosse, ardor e dor na garganta, ressecamento, dificuldade para engolir, sensação de corpo estranho, problemas na audição, obstrução nasal, coriza, alergias, emoções, outro ou nenhum.
Para se cantar em um coral o participante deve ter sua voz classificada (ou pré-classificada) por um professor de canto experiente que indique o naipe no qual irá participar. A classificação vocal está assim determinada: soprano, referente à voz feminina aguda; mezzosoprano, voz feminina mediana; contralto, voz feminina grave; tenor, voz masculina aguda; barítono, voz masculina mediana e baixo, voz masculina grave. Deve-se ficar atento, pois algumas escolas de canto acrescentam subclassificações como, por exemplo, soprano coloratura, lírico e dramático. O coralista, assim como o professor de canto, poderá ainda ter dúvidas sobre a classificação de sua voz devido imaturidade vocal ou pela voz ainda estar em processo de classificação.
A realização de técnica vocal deve ser informada, assim como descrições sobre a modalidade de canto que executa: se erudito ou popular, com respectivo estilo, e sobre o uso do canto em carreira solo.
Para que sejam administradas orientações sobre o uso adequado da voz, a descrição do ambiente de trabalho é de fundamental importância para a identificação de agentes agressores á voz. Outro aspecto que sempre acompanha as triagens na área da voz é a informação sobre os fatores desencadeantes e agravantes de disfonia, sendo os mais referidos: o abuso da voz, mau uso da voz, alimentação inadequada, distúrbios do sono, consumo de bebidas alcoólicas e fumo, poluição sonora e ambiental, automedicação, sedentarismo e equipamentos de amplificação ineficientes.
As questões sobre as impressões dos outros e do coralista sobre sua voz colaboram para a avaliação da psicodinâmica vocal construída pelo coralista.
Realizar uma avaliação perceptual da voz em um coral inteiro requer tempo, porém alguns aspectos poderão ser analisados para orientações e encaminhamentos iniciais. Tensões cervicais e posturas inadequadas devem ser investigadas durante os ensaios e apresentações, assim como o tipo respiratório e a coordenação pneumofônica. Dois testes de fácil execução são sugeridos: o teste de contagem e a aferição dos tempos máximos de fonação. Aspetos sobre a mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios devem ser registrados. Por fim, analisa-se o tipo de voz com a possibilidade do uso da escala GIRBAS.
Na seqüência, o fonoaudiólogo poderá sugerir um acompanhamento fonoaudiológico para o coral em questão. Por falar em questão, está é mesmo uma outra questão. Discorramos depois!
Charleston Palmeira