terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ler em Público

1. Realize uma leitura oral prévia do texto para entender o conteúdo;
2. Alongue o corpo, boceje, emita o som do “s” e mastigue o som do “m”. Isto é um aquecimento para a voz;
3. Prepare o texto (se possível): tamanho da fonte 12 (mínimo), espaçamento duplo e folhas numeradas. Não esqueça os óculos!
4. Utilize barras (/) para determinar os locais das pausas, sejam respiratórias ou de ênfase;
5. Articule bem as palavras e sublinhe aquelas de difícil pronúncia (nomes próprios, estrangeirismos, palavras polissílabas etc.), assim como os vícios de linguagem iminentes (omissão de plurais, infinitivo de verbos, “nh”, gerúndios, encontros consonantais como “dentro”; finalizações como “eira” e verbos no passado como em “passou” etc.);
6. Estabeleça como serão as entonações: a) determine se o texto será lido em tom agudo, mediano ou grave, assim como realize variações deste tom durante a leitura; b) circule as palavras mais significativas e aumente o volume da voz para enfatizá-las; c) reduza a velocidade da fala nos trechos de maior relevância. Frase para treino: “Os pequenos projetos devoram os grandes”. Jacques Deval;
7. Mantenha a postura corporal ereta, pois trará melhor projeção para a voz e benefícios estéticos para sua apresentação;
8. Não é problema apoiar-se (elegantemente, claro) sobre a bancada ou púlpito e acompanhar a leitura com o dedo;
9. Prefira um microfone com pedestal. Assim, uma mão segura o texto enquanto a outra gesticula;
10. Olhe o público enquanto lê. Divida a platéia em quatro partes e distribua seu olhar entre os quadrantes.
E nada de ingerir fórmulas milagrosas. Beba água e boa sorte!

Charleston Palmeira

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Programa de Atendimento Fonoaudiológico para Cantores - Promoção da Saúde

Este programa busca contribuir para a prática fonoaudiológica junto aos cantores amadores e profissionais no tocante a promoção da saúde vocal. Trata-se de uma sugestão didática sobre o desenvolvimento do atendimento de cantores com objetivo de promover a saúde vocal e conseqüente aumento da resistência vocal. O programa foi dividido em etapas e o tempo disponível para cada uma delas está vinculado à dinâmica de trabalho empregada pelo fonoaudiólogo e pelo grau de assimilação dos conteúdos pelo cantor. As etapas constam de:

1. Aplicar triagem vocal com objetivo de selecionar cantores para as ações fonoaudiológicas em grupos ou individual;
2. Realizar avaliação vocal perceptual da voz cantada e falada, análise acústica da voz falada e gravação em vídeo da voz cantada;
3. Explanar sobre a fisiologia vocal, os distúrbios da voz e saúde vocal para o cantor;
4. Conhecer e aplicar técnicas para relaxamento e aquecimento vocal. Prática de canto: enfoque no relaxamento. Conhecer e aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
5. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Conhecer e adequar a respiração para a fonação: tipo, capacidade e controle pneumofônico. Prática de canto: enfoque na respiração. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
6. Aplicar técnicas de aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Prática de canto: enfoque no relaxamento e respiração. Aplicar técnicas de desaquecimento vocal;
7. Aplicar técnicas de aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Conhecer e aplicar técnicas para articulação. Prática de canto: enfoque na articulação. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
8. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Prática de canto: enfoque na articulação. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
9. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Conhecer a importância da audição para o canto. Treino auditivo: voz cantada e falada disfônica e adaptada;
10. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Prática de canto: enfoque no relaxamento, respiração e articulação. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
11. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Conhecer e aplicar técnicas para ressonância. Prática de canto: enfoque na ressonância. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
12. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Prática de canto: gravação em vídeo. Aplicar técnicas de desaquecimento vocal. Reavaliação;
13. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Conhecer e aplicar os recursos do microfone. Prática de canto: uso do microfone. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
14. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Conhecer e aplicar os recursos não verbais – gesticulação, expressão facial. Prática de canto: uso de recursos não-verbais. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
15. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Aplicar os recursos não verbais – gesticulação, expressão facial. Prática de canto: uso do microfone e de recursos não-verbais. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
16. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Seleção de repertório;
17. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Treino auditivo e visual: apresentação de vídeos de cantores;
18. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Aplicar os recursos não verbais – gesticulação, expressão facial. Prática de canto: ensaiar repertório. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
19. Aplicar técnicas para aquecimento vocal. Ajustar a respiração para a fonação. Aplicar técnicas para articulação. Aplicar técnicas para ressonância. Aplicar os recursos não verbais – gesticulação, expressão facial. Prática de canto: ensaiar repertório no local da apresentação. Aplicar técnicas para desaquecimento vocal;
20. Devolutiva do atendimento fonoaudiológico.

As práticas de canto funcionam como recursos para fixar as técnicas propostas pelo fonoaudiólogo. Deve-se discutir o programa fonoaudiológico com o professor de canto para que haja consonância entre as atividades propostas.
Charleston Palmeira

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Abandono terapêutico

“Quando não estou nem disposto, nem senhor de mim,
cada um de meus doentes se torna para mim um espírito maléfico”
(Carta 130 de Freud à Fliess)

Anos de estudos acadêmicos em anatomofisiologia, patogenia, avaliação e reabilitação dos distúrbios vocais, por vezes nos afastam da compreensão de determinados movimentos da clínica fonoaudiológica. O abandono terapêutico é um destes. É a nossa experiência clínica que nos permite questionar quais os motivos que levam o paciente a abandonar seu tratamento. A formação positivista nos priva de adentrarmos mais intimamente nas imagens do paciente frente a sua voz, no conhecimento das possibilidades deste em modificar suas características comunicativas, calcadas na cultura, e na forma de estimular a motivação para estabelecer mudanças necessárias na sua conduta vocal desviada. Em muitos pacientes prevalece uma extraordinária resistência à reabilitação vocal devido ao desejo ou necessidade de perpetuar uma voz que lhe traga ganhos secundários (econômicos, sociais, pessoais etc.) e a dificuldade de eliminar hábitos prazerozos(listados nos quadros de abuso e mau uso vocal). Como, então, compreender melhor estes fenômenos quando possuímos uma leitura eminentemente organicista-positivista das manifestações disfônicas?
Entendemos que seja função do fonoaudiólogo investigar, não só o histórico da disfonia, as características comunicativas e as alterações funcionais e estruturais do aparato fonador, mas também os aspectos que fazem o paciente resistir à reabilitação findando no abandono de seu tratamento. É compreender que este universo comunicativo, onde a voz é apenas uma parte integrante da grande linguagem, está ligado ao imaginário, ao desejo, à repressão, à corporalidade(KÖRNER, 1981) , reflexo das relações com a cultura
Compreender as técnicas terapêuticas como suporte ou mesmo trampolim para atingirmos uma voz viável social e profissionalmente, exclui a possibilidade de utiliza-las unicamente com fins motores. Entendemos que os distúrbios da voz perpassam por uma disfunção cinética, devendo ser tratada como tal, porém uma visão reducionista da ação terapêutica pormenoriza questões subjetivas, emocionais e psicossociais em detrimento das questões eminentemente fisiológicas. Esta postura leva-nos a crer que o fonoaudiólogo, inúmeras vezes, protege-se por detrás do discurso organicista, quando deveria manter-se além do discurso corrente do paciente-sujeito.
É sempre necessário refletir nosso papel frente a reestruturação das representações ligadas à voz e a disfonia e ao movimento da subjetividade do paciente disfônico em terapia. É compreender a comunicação como um processo mais complexo e instigante . Acreditamos ser esse o ponto-chave para o início do entendimento da relação homem-mundo-sintoma na clínica fonoaudiológica, trazendo o paciente-sujeito mais próximo, fazendo com que o paciente sinta-se apoiado e compreendido na sua real problemática , na tentativa de compreendermos, cada vez mais, as nossas “brechas terapêuticas”.
Charleston Palmeira

domingo, 4 de maio de 2008

Gesticulação e telejornalismo

O fonoaudiólogo quando atua junto ao telejornalismo tem como base um plano de trabalho que visa desenvolver a saúde vocal, a expressividade, a naturalidade do profissional, o ritmo de fala, a entonação e a suavidade do sotaque. A televisão, que tem a visão e a audição como principais canais de recepção, exige uma comunicação diferenciada do rádio, pois são solicitados, além dos recursos verbais e vocais, os recursos não verbais. Segundo Kyrillos, Andrade e Cotes (2002) são estes os recursos que colaboram para uma ideal expressividade dos profissionais do telejornalismo.
Os recursos verbais estão associados ao que é dito, ao conteúdo semântico e seu efeito sintático. É sempre oportuno lembrar que o fonoaudiólogo não desenvolve o texto, mas colabora na sua sonoridade, orientando sobre os efeitos negativos das frases longas, rimas e para o excesso de fonemas com a mesma sonoridade.
Os recursos vocais relacionam-se com os aspectos supra-segmentais, como pitch adequado para o texto, loudness variável, uso de pausas respiratórias e interpretativas, articulação precisa e sotaque, que não deverão se sobrepor à notícia. A inflexão, um dos aspectos mais importantes dentro do telejornalismo, deve variar de acordo com a intenção do discurso, através de alterações no pitch, na loudness e na velocidade da fala. Os gestos, as expressões faciais e a postura compõem o grupo dos recursos não-verbais. Gestos, recurso não-verbal mais utilizado, são ações corporais que transmitem uma idéia ou sentimento. Surgem de forma espontânea, para complementar ou conduzir a mensagem, sem que o outro perceba conscientemente (POLITO, 1996). Podem vir antes ou durante a fala. KNAPP e HALL (1999) destacam as seguintes funções para os gestos: substituir a fala, regular o fluxo e o ritmo da interação, manter a atenção, dar ênfase ao discurso e ajudar a caracterizar e memorizar o conteúdo do que é dito. Cotes (2002) relata que no telejornalismo a linguagem é única, onde a imagem e voz fundem-se e interatuam e a performance e a credibilidade são preocupações constantes. Os apresentadores devem passar uma imagem dinâmica, inspirando confiança, equilíbrio, segurança e honestidade. Menciona também que o telejornalismo é uma situação artificial e requer estudo prévio e que mais importante que as modificações dos gestos é a flexibilidade dos movimentos.
Ekman e Friesen (1981) classificam os gestos como:
Emblemas: tradução verbal direta (Ex: fazer figa, elevar o polegar). São evitados no telejornalismo;
Ilustradores: enfatizam a palavra ou frase (Ex: o garoto era desse tamanho);
Reguladores: são involuntários (Ex: movimentos de cabeça, direcionamento dos olhos);
Manifestações afetivas: configurações faciais que manifestam estados afetivos, conscientes ou inconscientes;
Adaptadores: manipulação de uma parte do corpo ou objeto, “muleta” (Ex: manipular o cabelo, mexer na caneta).
O trabalho junto à bancada no estúdio de telejornal requer atenção para a posição e o movimento das mãos, a expressão facial e a postura.
Cotes (2002) reforça que os filósofos da antiguidade designavam as mãos como segunda inteligência, tamanha sua expressividade e que revelam de modo involuntário as emoções. Seus movimentos no vídeo não devem ultrapassar a linha do queixo. Uma posição de descanso ou neutra deve ser adotada, evitando mãos separadas e espalmadas sobre a bancada. Gesticular com as duas mãos poderá parecer exagero no vídeo. Sobre a expressão facial deve-se evitar: fugir com os olhos, olhar para um ponto fixo, olhar desconfiado e olhar perdido (POLITO, 1996); expressar mistério, impenetrabilidade ou charme. As sobrancelhas acompanham os movimentos da cabeça e os aspectos supra-segmentares da fala em seus movimentos de elevação e abaixamento. Atentar-se para piscar os olhos, evitando o olhar perdido ou mesmo o excesso de piscadelas. A postura tem um caráter estético e funcional. Para o telejornalismo o ideal é uma postura ereta, olhando para a câmera, costas firmemente apoiadas, pés no assoalho e um pouco distantes. Assim, transmite-se segurança (COTES, 2002).

Alguns exercícios poderão ser realizados, como sugerir um modo de gesticular de acordo com as seguintes frases:
- O importante na obra de arte é o espanto (Charles Baudelaire). Gesto: um dos indicadores poderá estar para cima finalizando com sobrancelhas levemente elevadas.
- Ópera é quando o sujeito recebe uma facada nas costas e, em vez de sangrar, canta (Ed Gardner). Gesto: início com mãos em posição neutra, depois seguem unidas para direita e ao final para a esquerda.
- Eu não procuro. Eu encontro (Pablo Picasso). Gesto: as mãos poderão apontar para fora e ao final para dentro.
- É revoltante ver uma pessoa que se sacode e diz que é ator ou atriz. (Raul Cortez). Gesto: evitar o gesto ilustrado de rebolar. As mãos poderão fazer um gesto de negação e a cabeça pontuar as palavras ator e atriz.
- Este maestro rege como se estivesse batendo maionese (Hebert Von Karajan). Gesto: o dedo indicador de uma das mãos poderá realizar um círculo suave indicando o movimento da maionese

O trabalho deve obedecer a filosofia da empresa que veicula o telejornal. Porém, regas básicas são úteis para evitar excesso ou ausência de expressividade. Assim, o bom senso também é um aliado para não tornar notícias sérias em sensacionalistas e as vitórias esportivas, em derrotas.

Charleston Palmeira

Referências
COTES, C. Articulando voz e gesto no telejornalismo. In. FERREIRA, L. P.; ANDRADA E SILVA, M A. Saúde vocal: práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2002.

KYRILLOS, L.; ANDRADE, D.F; COTES, C. Fonoaudiologia na telejornalismo. In. FERREIRA, L. P.; ANDRADA E SILVA, M A. Saúde vocal: práticas fonoaudiológicas. São Paulo: Roca, 2002.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Proposta de seqüência respiratória

O fonoaudiólogo constrói seu plano de trabalho baseando-se na anamnese, na avaliação propriamente dita, nos exames complementares e em aspectos subjetivos, tais como suas preferências e familiaridade com as técnicas. Ao estabelecer quais as técnicas deverão ser empregadas para um determinado quadro clínico, este as organiza em uma seqüência que Behlau et. al. (2005) definem como uma série de procedimentos ou exercícios organizados, com ordenação temporal predeterminada, para um fim específico. Assim, ao longo de sua prática, acaba por criar seqüências terapêuticas que muitas vezes merecem ser divulgadas e experienciadas por outros colegas.
Este artigo é resultado de alguns experimentos com uma seqüência que tem como base a organização da respiração para o aperfeiçoamento da comunicação oral e reabilitação fonoaudiológica para as disfonias.
Para a administração da referida seqüência é necessário que o paciente tenha realizado exercícios de relaxamento e alongamento da região cervical e face. Levando-se em conta a premissa de que a maioria dos pacientes s apresenta tensão fonatória, procedimentos de relaxamento propiciam melhores condições para o controle muscular, podendo, assim, desfazer padrões funcionais errados (de voz, postura etc.) e adquirir os corretos. Favorecem, também, a atenção e concentração para a execução das atividades propostas. Casos específicos como paralisias, paresias de laringe e distúrbios hipocinéticos devem ser analisados quanto à contribuição inicial de relaxamento laríngeo.
A seqüência respiratória é centrada na respiração inferior. Cabe ao fonoaudiólogo, juntamente com seu paciente, determinar o tipo mais apropriado: abdominal ou intercostal diafragmático. Ou seja, se a expansão abdominal é anterior, lateral ou em ambos. Aqui, a respiração abdominal anterior será a tônica, sendo instalada apenas solicitando ao paciente de dilate o abdome e ao contrai-lo produzir simultaneamente um sopro fraco e suave. O paciente não deverá entrar no ar de reserva. No instante que o abdome se dilata, a inspiração é realizada sem a participação excessiva da musculatura superior, fato este que contribui para a redução das tensões cervicais e laríngeas. Sugere-se, inicialmente, não utilizar os termos inspiração e expiração, pois de início, estão contaminados de tensão decorrentes da má utilização da respiração para fala. Após produção do sopro fraco, serão realizadas as seguintes seqüências de emissões:
- Sopro dividido em duas, três, quatro ou mais partes. Cuidado para não ocorrer uma inspiração entre eles. A quantidade de sopros está diretamente associada ao conforto e à capacidade respiratória do paciente.
- Emissão de fricativos surdos. O “s” geralmente é o de melhor rendimento, visto que o “f” poderá ser de difícil execução e o “x” exige maior gasto de ar. É importante que todos os fricativos sejam aplicados, de preferência alternados. Exemplos: inicia-se uma emisão com “s”, altera-se para o “f” e finaliza em “x” ou mesmo a realização de várias emissões em “s”, finalizando em “x”. A criatividade do fonoaudiólogo colaborará para a motivação do paciente frente aos exercícios.
- Emissão dos fricativos sonoros. A fonte glótica é acionada durante a execução dos exercícios sonoros com o “z”,”v” e “j”. O princípio é o mesmo dos fricativos surdos, alternando-os com os fricativos surdos. Exemplo: inicia-se com “s”, intercalando com o “z” em uma mesma expiração.
- Emissão das vogais. A atividade eminentemente glótica exercida pelas vogais, requer atenção do fonoaudiólogo para que não ocorram tensões, ruídos e incoordenações respiratórias. As vogais formam a realeza dos sons, por isso, todo cuidado é pouco. As vogais poderão ser emitidas após fricativos surdos e sonoros
- Emissão de números, palavras e frases. Neste momento, a atividade de fala é solicitada, aproximando o controle respiratório daquele utilizado durante a fala espontânea. O número de palavras deve ser aumentado gradativamente, atentando-se para os ajustes pneumofônicos.
- Leitura. Para o sucesso do exercício é necessária uma seleção criteriosa dos textos. Fontes grandes, frases simples e vocabulário coloquial favorecem a leitura, principalmente daqueles que têm dificuldades neste ato. Os textos de frases curtas devem anteceder os de frases médias e longas. Neste caso, a poesia é um recurso útil. Marcar com barras os pontos onde a inspiração deve ocorrer colabora para a fluência respiratória.
- Fala espontânea e fala profissional. A ultima etapa da seqüência respiratória envolve o uso da fala social e profissional. Comumente o paciente encontra dificuldades em coordenar a respiração com seus conteúdos de fala. Assim, a orientação para realizar frases curtas contribui para a efetividade do exercício.
Após todas estas etapas, acredita-se que uma respiração adaptada aos ajustes fonatórios esteja encaminhada. Cabe ao fonoaudiólogo, dentro de seus interesses, empregar a seqüência respiratória proposta com sensatez. Aliás, esta é a palavra chave quando o assunto é voz.
Charleston Palmeira

quarta-feira, 16 de abril de 2008

16 de abril - Dia Mundial da Voz

Quando abril se aproxima, nós, os fonoaudiólogos, já ficamos à espera de informações sobre as comemorações e ações a serem realizadas no Dia Mundial da Voz, 16 de abril. A semana que contempla este dia é recheada de eventos que se voltam para a promoção da saúde vocal, prevenção e detecção dos distúrbios da voz, em especial, aqueles que são reflexos do câncer de laringe. Sabemos que o dever nos aguarda, pois é hora de prestarmos nosso serviço à população carente de informação.
Com objetivo de conclamar a população para ações educativas voltadas para a conscientização vocal e suas implicações na comunicação, na saúde e na cultura, a campanha desenvolvida em torno do Dia da Voz promove uma grande visibilidade pelas autoridades e imprensa, mas principalmente uma significativa procura por parte da população.
Desde 1998, ano do início da campanha, a comunidade fonoaudiológica vem se mobilizando para promover ações que favoreçam a conscientização da sociedade quanto à importância da saúde vocal e a prevenção de alterações na voz. Em anos ímpares, a campanha visa atender a população, principalmente em praças públicas e em postos de atendimento. Nos anos pares a campanha é eminentemente educativa e institucional.
Estimular a presença de fonoaudiólogos e estudantes do curso de Fonoaudiologia nesta prática, colabora para o desenvolvimento de uma mente plural quando o assunto é a saúde coletiva. As experiências adquiridas em uma campanha desta natureza auxiliam ao fonoaudiólogo (e futuro) a compreender alguns aspectos deste trabalho junto à sociedade. Ganha a profissão e a população.
O sucesso da campanha é reflexo de uma parceria entre todos aqueles que acreditam que o fim último é o bem-estar da sociedade. E esta sociedade agradece ao espírito empreendedor e apaziguador do Dr. Wilson Meireles, coordenador geral da campanha, da Dra. Maria Carlos, que geriu a campanha de maneira exemplar; a todos os médicos e fonoaudiólogos que são os grandes amigos da voz; ao apoio do Conselho Regional de Fonoaudiologia 8ª. Região; à visão de saúde coletiva incorporada pelo Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR, representado pela profa. Christina Praça e seus queridos docentes ao seu Centro Acadêmico e a todos os estudantes que abraçaram este exercício de cidadania e a Cooperativa de Fonoaudiologia do Estado do Ceará, que tem uma visão para além da empresarial: tem um compromisso com o social. Importante também salientar a participação do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno que sempre abraça a causa de uma maneira singular através do canto.
Que nós possamos sempre trabalhar juntos em prol da saúde coletiva, que sejamos cada vez mais ousados em nossas atividades de promoção da saúde e que unamos ainda mais as nossas forças para a inserção da Fonoaudiologia no serviço público, já!
Charleston Palmeira

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Falsete mutacional - um estudo de caso

O falsete mutacional reflete o fracasso em adquirir uma voz de sonoridade adulta, não apresentando alterações de natureza estrutural laríngea. A apresentação de um caso clínico visa esclarecer sobre sua sintomatologia, diagnóstico diferencial, tratamento pertinente. Relataremos o caso de M., sexo masculino, 22 anos, balconista. Queixou-se de "voz muito fina e fraca", dificultando no seu convívio social. Referiu que no início da puberdade, começou a emitir "uma voz diferente", não a mantendo por considerá-la "uma voz grossa e feia". Os dados relevantes da avaliação perceptual foram: tensão fonatória associada à elevação da laringe, incoordenação pneumofônica caracterizada por utilização do ar de reserva, pitch muito agudo, loudness mediana, sonoridade intermitente com quebras para o registro basal, gama tonal e tempos máximos de fonação reduzidos. As provas terapêuticas, que envolveram uso da tosse, manipulação digital e bocejo, foram aplicadas com objetivo de realizar diagnóstico diferencial de alterações vocais de natureza hormonal, sensorial e estrutural congênita ou adquirida antes do período da muda vocal. O exame laringoscópico confirmou o diagnóstico de disfonia funcional, caracterizada por falsete mutacional. A reabilitação vocal teve como objetivo estabelecer a voz fisiológica, suscitando no paciente a percepção das mudanças ocorridas em sua voz, fazendo ater-se ao seu novo modo de se subjetivar através desta. Foram empregadas inicialmente as técnicas de tosse (que logo foi substituída por [R]) associada às vogais, sílabas e palavras; som basal; manipulação digital e vocalização inspiratória. Seguiram-se as técnicas de sons fricativos sonoros, vibrantes, nasais; exercícios de melodia e leitura para estabilização vocal. Utilizamos exercícios de relaxamento da região cervical, respiração, técnica de mastigação, bocejo e fala salmodiada, para promover suavização da emissão.Apesar da inicial rejeição da voz mais grave, o paciente assimilou positivamente sua nova forma de emissão, sempre referindo mudanças significativas em sua maneira de lidar com as pessoas e com a vida.

Charleston Palmeira